segunda-feira, 5 de setembro de 2011

GADAFI ERA AMIGÃO DOS INGLESES E AMERICANOS...


Independent: Documentos secretos revelam relações carnais com Gaddafi

As cartas secretas de Moussa Koussa mostram conexão líbia com o Reino Unido
Mensagens encontradas em seu escritório mostram como o MI6 [serviço secreto de inteligência] deu detalhes sobre dissidentes no exílio a Gaddafi — e como a CIA usou o regime para ‘rendição extraordinária’
por Portia Walker Kim Sengupta em Trípoli

Saturday, 3 September 2011, no jornal britânico Independent
Arquivos secretos descobertos pelo Independent em Trípoli revelam que ligações espantosamente próximas existiam entre os governos britânico, norte-americano e o de Muammar Gaddafi.
Os documentos mostram como prisioneiros foram oferecidos para interrogatórios brutais pelo regime de Trípoli sob o altamente controverso programa de ‘rendição extraordinária’ e também como informações sobre opositores do ditador líbio exilados no Reino Unido foram repassadas ao regime pelo MI6.
Os papéis mostram que autoridades britânicas ajudaram a escrever o rascunho de um discurso do coronel Gaddafi quando ele tentava reabilitar seu regime do status de pária, no qual mergulhou depois do apoio dado a movimentos terroristas. Outros documentos revelam que os Estados Unidos e o Reino Unido agiram em nome da Líbia para conduzir negociações com a Agência Internacional de Energia Atômica.
Nas tentativas que tinham implementado de cultivar seus contatos com o regime, os britânicos algumas vezes não estavam dispostos a dividir sua “conexão líbia” com os aliados mais próximos, os Estados Unidos. Numa carta a um colega do serviço de inteligência líbio, um oficial do MI6 descreveu como tinha se negado a informar a identidade de um agente a Washington.
Os documentos, muitos dos quais tem implicações incendiárias, foram encontrados no escritório particular de Moussa Koussa, o braço direito do coronel Gaddafi e chefe do serviço de segurança, que se exilou no Reino Unido nos dias seguintes ao início da revolução de fevereiro na Líbia.
Os papéis revelam detalhes sobre a visita de Tony Blair ao ditador líbio em Trípoli — foi o escritório do primeiro-ministro britânico que requisitou que o encontro acontecesse em uma tenda. Uma carta de um oficial do MI6 ao sr. Koussa diz que “o número 10 [em referência ao endereço do primeiro-ministro britânico, 10 Downing Street, em Londres] quer que o primeiro-ministro encontre o Líder em uma tenda. Eu não sei porque os ingleses são fascinados por tendas. O fato é que os jornalistas adorariam”.
Os documentos levantam questões sobre o relacionamento entre Moussa Koussa e o governo britânico e sobre os eventos que se seguiram ao exílio dele. A chegada surpreendente do sr. Koussa ao Reino Unido provocou pedidos para que ele fosse interrogado pela polícia sobre seu envolvimento em assassinatos no Exterior praticados pelo regime líbio, inclusive a de uma policial, Yvonne Fletcher, e de oponentes de Gaddafi.
Koussa também estaria envolvido no envio de armas para o IRA [Irish Republican Army, grupo armado que enfrentou os britânicos na Irlanda]. Na época do exílio, o governo de David Cameron garantiu ao público que o sr. Koussa poderia ser processado. Em vez disso, ele recebeu autorização para deixar o Reino Unido e agora se acredita que esteja em um dos países do Golfo [Pérsico].
As revelações do Independent vão despertar perguntas sobre se o sr. Koussa, que há muito era acusado de abusos dos Direitos Humanos, foi autorizado a escapar porque tinha provas constrangedoras ['smoking gun']. O sr. Koussa copiou e levou com ele dezenas de arquivos, quando deixou a Líbia.
Os papéis ilustram as relações íntimas do sr. Koussa e de alguns colegas dele com a inteligência britânica. Cartas e faxes eram enviados a ele com ‘Saudações do MI6′ e ‘Saudações do SIS’, felicitações natalinas, numa ocasião, ‘De seu amigo’, seguido pelo nome de um oficial de inteligência britânico, além de lamentações sobre encontros que não deram certo. Houve também uma regular troca de presentes: em uma ocasião um agente líbio chegou a Londres carregado de figos e laranjas.
Os documentos repetidamente tratam de um florescente relacionamento entre as agencias de inteligência ocidentais e a Líbia. Mas havia um custo humano. O regime de Trípoli era um parceiro altamente útil no processo de ‘rendição extraordinária’ sob o qual prisioneiros eram mandados pelos Estados Unidos para ‘interrogatórios reforçados’, um eufemismo, dizem os grupos de defesa dos Direitos Humanos, para tortura.
Um documento do governo dos Estados Unidos, marcado ’secreto’, diz “nosso serviço está em condições de entregar Shaykh Musa para sua custódia física de forma similar ao que fizemos com outros líderes-sênior do LIFG (Grupo Líbio de Luta Islâmica) no passado. Nós respeitosamente pedimos a expressão de seu interesse em assumir a custódia do sr. Musa”.

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