sexta-feira, 9 de setembro de 2011

NÃO ABANE O RABO PARA A MÍDIA


O Grito, a “marcha” e a mídia seletiva

Por Altamiro Borges

No livro obrigatório “Os padrões de manipulação na grande imprensa”, o jornalista Perseu Abramo ensina que a mídia oculta ou realça determinados assuntos de acordo com os seus interesses econômicos e políticos. A mentira descarada não convence. Daí o uso de técnicas refinadas e sutis para manipular a sociedade. Para o mestre do jornalismo, não existe neutralidade da mídia.

Nas manifestações ocorridas ontem (7) em vários cantos do país isto fica patente. As emissoras de rádio e TV, os jornalões e os sítios dos impérios midiáticos deram grande destaque às chamadas “marchas contra a corrupção”. Muitos dos que participaram destes atos até podiam ter boas intenções. Já o realce da mídia demotucana não foi ingênuo. Visou desgastar o atual governo.

A técnica da ocultação

Prova inconteste desta manipulação é que a mesma mídia que deu capa ou longos comentários nas telinhas às “marchas contra a corrupção”, mesmo as mais chinfrins, nada ou pouco falou sobre os atos de protesto do 17º Grito dos Excluídos, organizado pelas pastorais sociais da Igreja e os movimentos populares. Neste caso, por motivos óbvios, a mídia adotou a técnica da ocultação.

Segundo balanço parcial dos organizadores, o Grito dos Excluídos reuniu quase 80 mil pessoas em 25 estados da federação. Com o lema “Pela vida, grita a terra”, os manifestantes exigiram reforma agrária e urbana, mudanças na política econômica, defesa do meio ambiente, entre outras reivindicações. Eles criticaram a concentração de terra, renda e riqueza no Brasil.

A voz dos despossuídos

O maior protesto do Grito dos Excluídos ocorreu em Aparecida do Norte, interior paulista, com cerca de 50 mil pessoas. Em Belo Horizonte, ele reuniu 1,2 mil participantes; em Manaus, mais de 5 mil. Segundo Luis Bassegio, da coordenação do movimento, “o Grito se tornou um espaço de manifestação do povo que não tinha onde levantar a sua voz contra a injustiças sociais”.

A cada ano, o Grito de Excluídos se consolida como um momento importante de mobilização, conscientização e organização dos despossuídos. Hoje, inclusive, ele já tem dimensão continental, com protestos em vários países da América Latina. Apesar da sua relevância, a mídia hegemônica adota a técnica da ocultação. Perseu Abramo denunciou há tempos esse padrão de manipulação:

“Recriando a realidade à sua maneira e de acordo com seus interesses político-partidários, os órgãos de comunicação aprisionam os seus leitores nesse círculo de ferro da realidade irreal, e sobre ele exercem todo o seu poder. O Jornal Nacional faz plim-plim e milhões de brasileiros salivam no ato. A Folha de S.Paulo, o Estado de S.Paulo, o Jornal do Brasil, a Veja dizem alguma coisa e centenas de milhares de brasileiros abanam o rabo em sinal de assentimento e obediência”.

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