quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

BELA HOMENAGEM DE UM CATÓLICO A GHANDI

Um santo não cristão
 
Marcelo Barros
Monge beneditino e escritor
Adital
Nesta semana, multidões, vindas de todas as regiões da Índia, vão em peregrinação a Deli. Ali, visitam uma laje de mármore, posta no lugar onde, no dia 30 de janeiro de 1948, foi assassinado o Mahatma Gandhi. As pessoas levam flores. Todos depositam uma flor no monumento. Os adultos chamam: "Mahatma Gandhi!". As crianças respondem: "Anantha-he!", isto é, "para sempre”. Neste Brasil, tão sofrido e onde são tão raros os líderes políticos de solidez espiritual e que se entregam verdadeiramente ao povo, precisamos nos voltar para Gandhi, o Mahatma, isto é, a "Grande Alma" e desejar que seu exemplo e sua mensagem sejam eficazes para sempre. Ele dizia: "Não tenho mensagens. Minha mensagem é simplesmente a minha vida". Ele intitulou a sua auto-biografia: "A história das minhas experiências com a verdade". Por isso, apesar de vivermos em um Brasil tão distante da Índia, convido você que lê esta página, a pensar com amor em nosso país e, onde quer que esteja, dizer comigo: "Mahatma Gandhi, anantha-he!".
Isso implica em comprometer-se em levar adiante a inestimável herança que Gandhi deixou para a humanidade. Sua luta pacífica através da Satyagraha, o caminho da verdade y ahimsa, a não violência, além de conduzir a Índia para a independência política, inspirou líderes como o bispo Desmond Tutu e Nelson Mandela na África do Sul, o pastor Martin-Luther King em sua luta contra o racismo nos EUA, Dom Helder Câmara no Brasil em sua insurreição evangélica e tantos outros homens e mulheres em sua consagração à justiça e à paz.
Infelizmente, mais de 60 anos depois do assassinato de Gandhi, o mundo continua cada vez mais intolerante e violento. Por isso, é urgente, recordar a herança de Gandhi e atualizá-la para nós e para toda a humanidade. Hoje, o colonialismo contra o qual Gandhi se insurgiu tem outros rostos e outros nomes, como neoliberalismo, desemprego estrutural e a dívida externa e interna dos países. Contra esse modo desumano de organizar o mundo, grande parcela da juventude mundial e pessoas adultas de todos os continentes têm se insurgido. No mundo inteiro, tem havido muitas manifestações por um novo mundo possível. Elas juntam pessoas e associações muito diversas. Provavelmente, as duas contribuições maiores de Gandhi para esse novo momento da humanidade são a insistência na coerência entre a ação sócio-política da pessoa que quer mudar o mundo e o modo como ele vive seus valores e sua vida pessoal. Gandhi dizia: "A minha vida é um todo indivisível, e todos os meus atos convergem uns aos outros;e todos eles nascem do insaciável amor que tenho para com toda humanidade”. Esse amor é que o levava à ação não violenta que sempre contestava a opressão, mas conseguia ver a pessoa humana em sua sacralidade, mesmo se essa pessoa era um adversário ou inimigo político. Essa era a verdade na qual Gandhi acreditava e que ele defendia. Em sua luta pacífica pela verdade, Gandhi sabia que essa verdade se chama Deus. "Tudo o que eu faço é na busca de Deus. Anseio por ver a Deus, face a face. O Deus que eu conheço se chama Verdade". Não se trata de um termo apenas filosófico, nem de uma verdade nacional. É a realidade da vida baseada na solidariedade e na justiça. Essa é a base ética das tradições espirituais. Elas todas têm como objetivo que a fé se expresse em um novo modo de ser, de viver e de conviver. A Bíblia chama isso de aliança ou reinado de Deus no mundo, a realização do projeto divino de uma sociedade justa, pacífica e unida em uma só irmandade. Conforme o evangelho, Jesus disse: "Procurem acima de tudo o reino de Deus e sua justiça e tudo o mais lhes será dado como acréscimo” (Mt 6, 33).
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=63926

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