Os valores culturais formam as nacionalidades. Indicam seus
modos de encarar o mundo e reconhecer seus iguais. Em cada
sociedade eles se apresentam de maneira singular.
Algumas nacionalidades tendem ao espírito guerreiro. Outras às
artes. Muitas atuam em duelos tribais. Umas poucas se dedicam
à contemplação do universo.
Os brasileiros recolhem muitos destes atributos e acrescentam
um traço característico. Todo brasileiro é técnico de futebol. É o
que se dizia até passado recente.
Agora, o Brasil profundo, aquele que foi forjado pelo bacharelismo,
veio à tona. Com o julgamento do mensalão, todos se voltaram a
ser rábulas, práticos da advocacia.  
A audiência da televisão pública, destinada aos assuntos da Justiça,
superou a de todos os demais canais. As sessões do Supremo
Tribunal Federal foram assistidas, em silêncio, por multidões.
São os adeptos do novo espetáculo. O conflito de posições entre personalidades relevantes do cenário público: os ministros da mais
alta Corte do Judiciário.
Há, neste fenônemo, aspectos a serem considerados e merecem
reflexão. Certamente, o acontecimento demonstra que a cidadania
deseja saber como atua seu Judiciário. Moroso e repleto de jogos
de palavras.
Outro aspecto se concentra no próprio objeto da causa e em seus
personagens, os réus da ação. Quantos temas novos surgiram e como
os réus foram expostos sem qualquer reserva.
Alteraram-se visões jurisprudênciais remansosas e de longa maturação.
Não houve preservação da imagem de nenhum denunciado. Como
nos antigos juízos medievais, foram expostos à execração pública.
O silêncio a respeito foi unânime. O princípio da publicidade foi levado
ao extremo. Esta transparência permitiu, inclusive, a captação de
conflitos verbais entre magistrados.
A democracia se aperfeiçoa mediante o seu exercício continuo.
O julgamento do mensalão foi o mais exposto da História política
nacional. Foi bom e ao mesmo tempo preocupante.
Aprendeu-se a importância do bem viver e os danos pessoais –
além das penas privativas da liberdade – à imagem dos integrantes
do rol de réus. A lição foi amarga.
Toda a cidadania se manifestou a respeito do julgamento. Os
meios de comunicação nem sempre foram imparciais no
acompanhamento do importante episódio.
Alguns veículos aproveitaram a oportunidade para expor as suas
idiossincrasias com agressividade. Aqui, mais uma lição deste
julgamento. Seria oportuno um maior equilíbrio na informação.
Isto faria bem à democracia e aos autores do noticiário. Equilíbrio
e imparcialidade são essenciais para o desenvolvimento de uma
boa prática política.
Um ponto ainda a ser considerado. O comportamento dos próprios
ministros. Alguns se mostraram agressivamente contrários a
determinadas figuras em julgamento. A televisão capta o pensamento
íntimo das pessoas.
Houve também ministros que bravamente aplicaram a lei de forma
impessoal. Foram chamados de legalistas. Bom que assim seja.
As concepções contemporâneas do Direito, por vezes, fragilizam a
segurança jurídica.
Portou-se com destemor o Ministro Enrique Ricardo Lewandowski.
Soube suportar posições de confronto com altivez e respeito ao
Direito. Terminada sua missão de revisor, surgem as primeiras
manifestações favoráveis à sua atuação.
São muitas, pois, a lições recolhidas do julgamento do mensalão,
em sua primeira etapa. Os brasileiros, rábulas por ativismo, aguardam ansiosos os novos capítulos. 
Não haverá a mesma emoção no futuro. A democracia é exercício.
Aprendeu-se muito com as sessões do Supremo Tribunal Federal
 nestes últimos seis meses, inclusive controlar as animosidades.