quinta-feira, 7 de novembro de 2013

COLUNISTA PRATA TIRA A DIREITA-BURRA DO ARMÁRIO

A caixa de pandora aberta por Antonio Prata e sua 
falsa guinada à direita
kiko Nogueira - DCM - 05/11/2013

“Caralho. Esse tem culhão.”

A reação do roqueiro Roger, no Twitter, ao artigo de Antonio Prata na Folha foi 
entusiasmada. Prata escreveu uma coluna chamada “Guinada à Direita”. Confes-
sava que, às vésperas de completar 40 anos, havia tomado juízo e arejado as 
ideias.

“A rubra súcia domina o governo, as universidades, a mídia, a cúpula da CBF e 
a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, na Câmara. O pensamento que 
se queira libertário não pode ser outra coisa, portanto, senão reacionário”, escreveu.

“Quando terroristas, gays, índios, quilombolas, vândalos, maconheiros e aborteiros 
tentam levar a nação para o abismo, ou os cidadãos de bem se unem, como na 
saudosa Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que nos salvou do comunis-
mo e nos garantiu 20 anos de paz, ou nos preparemos para a barbárie”.

Mais: “O branco encontra-se escanteado”.

“Contra o poder desmesurado dado a negros, índios, gays e mulheres (as feias, inclu-
sive), sem falar nos ex-pobres, que agora possuem dinheiro para avacalhar, com sua 
ignorância, a cultura reconhecidamente letrada de nossas elites, nós, da direita, temos
 uma arma: o humor.”

E ainda: “No pé que as coisas estão é preciso não apenas ser reacionário, mas sê-lo 
de modo grosseiro, raivoso e estridente. Do contrário, seguiremos dominados pelo 
crioléu, pelas bichas, pelas feministas rançosas e por velhos intelectuais da USP”.

Era uma farsa. Uma boa provocação. Ainda que o autor tivesse deixado de ser, como 
dizia, meio intelectual, meio de esquerda, aquilo era um evidente exagero apocalíptico.

Mas a reação ao amontoado de clichês direitosos foi espantosa. Prata teve de escrever 
no Painel do Leitor que estava sendo irônico. “A intenção, ao criar tal persona retrógrada, 
racista, machista e homofóbica, era apontar tais preconceitos em nossa sociedade. Pa-
rece que funcionou, pois a maioria dos e-mails equivocados que recebi me parabenizava 
pela ‘coragem’ de ‘assumir’ essas deprimentes opiniões”.

Roger (que virou motivo de piada pelo tuíte animadão) não estava sozinho. Centenas de 
pessoas se sentiram à vontade para disparar obtusidades do mesmo quilate.

Na seção de cartas:

“Realmente é essa gentalha, protegida por um poder totalitário instalado em nossa nação 
há mais de uma década, que impede o pleno desenvolvimento do país. Parabéns. Aguar-
do ansioso por novas colunas raivosas.”

No Facebook:

“Ele diz que os índios lá estão, agora, improdutivos e nus, catando piolho e tomando 51. 
Cade a ironia ai? Por acaso alguém já viu algum índio produzir algo útil e bom para a 
sociedade nas terras deles?”

“A mídia não fala nada sobre a implantação do comunismo no Brasil que vem sendo 
desenvolvida a (sic) mais de 30 anos no Foro de São Paulo”.

“Sim, o mundo tá sendo dominado por gays, pois a mídia tá empurrando isso goela abaixo 
na sociedade. Com mensagens subliminares, lavagem cerebral. Por quê? Pq tem gente 
assim por trás da mídia. Imagina se a maioria dessa pessoas fossem pedófilas? Ou se 
fossem necrófilas?”.

“O único poder capaz de impedir que o comunismo se instale no Brasil e não nos torne 
escravos são os militares”.

“Não importa se é ou não um texto irônico, o importante é que tudo isso que foi dito é 
verdade! O pior cego é aquele que não quer ver!”

E por aí afora. Prata abriu uma caixa de pandora. Eu me lembrei do filme “A Onda”.

Conhece? Se passa numa escola na Alemanha. Os alunos têm de escolher entre duas 
disciplinas: anarquia e autocracia. O professor Rainer Wenger decide formar um modelo 
de governo fascista na classe para mostrar, na prática, como ele se organiza. Dá o nome 
de “A Onda” ao movimento. Os jovens escolhem uniforme e saudação.

A coisa se espalha para a cidade. Eles começam a gostar de ser subjugados e de subju-
gar os outros em nome daquilo. Depois de algumas situações limites, Wenger acha que 
provou seu ponto e resolve dar sua experiência por encerrada. Claro que aí já é tarde 
demais.

Prata foi bem ao se explicar. A burrice e a paranóia estão por aí, cheias de amor pra 
dar, à procura de um motivo. Como naquele aforismo de Charles Colton: “Há fraudes 
tão bem elaboradas que seria estupidez não ser enganado por elas”.

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