sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

HILDEGARD ANGEL DÁ EMOCIONANTE LIÇÃO DE CORAGEM

Hildegard Angel: “Não estou vendo fantasmas;

o Projeto do Mal de 64 ganha corpo”



A GENTE NUNCA PERDE POR SER LEGÍTIMO, MAS QUEM CONTA
A HISTÓRIA SÃO OS VENCEDORES, NÃO ESQUEÇAM!

por Hildegard Angel, em seu blog, sugerido por Messias Franca de Macedo

O fascismo se expande hoje nas mídias sociais, forte e feioso como um
espinheiro contorcido, que vai se estendendo, engrossando o tronco,
ampliando os ramos, envolvendo incautos, os jovens principalmen-
te, e sufocando os argumentos que surgem, com seu modo truculento de ser.

Para isso, utiliza-se de falsas informações, distorções de fatos, episódios,
números e estatísticas, da História recente e da remota, sem o
menor pudor ou comprometimento com a verdade, a não ser com seu
compromisso de dar conta de um Projeto.

Sim, um Projeto moldado na mesma forma que produziu 1964, que,
os minimamente informados sabem, foi fruto de um bem urdido plano,
levando uma fatia da população brasileira, a crédula classe média, a um
processo de coletiva histeria, de programado pânico, no receio de que o país
fosse invadido por malvados de um fictício Exército Vermelho, que lhes toma-
ria os bens e as casas, mataria suas criancinhas, lhes tiraria a liberdade de
ir, vir e até a de escolher.

Assim, a chamada elite, que na época formava opinião sobre a classe média
mais baixa e mantinha um “cabresto de opinião” sobre seus assalariados,
foi às ruas com as marchas católicas engrossadas pelos seus serviçais ao
lado das bem intencionadas madames.

Elas mais tarde muito se arrependeram, ao constatar o quanto contribuíram
para mergulhar o país nos horrores de maldades medievais.

Agora, os mesmos coroados, arquitetos de tudo aquilo, voltam a agir da
mesma forma e reescrevem aquele conto de horror, fazendo do mocinho bandido
e do bandido mocinho, de seu jeito, pois a História, meus amores, é contada pelos
vencedores. E eles venceram. Eles sempre vencem.

Sim, leitores, compreendo quando me chamam de “esquerdista retardatária” ou
coisa parecida. Esse meu impulso, certamente tardio, eu até diria sabiamente
tardio, preservou-me a vida para hoje falar, quando tantos agora se calam;
para agir e atuar pela campanha de Dilma, nos primórdios do primeiro turno,
quando todos se escondiam, desviavam os olhos, eram reticentes, não declara-
vam votos, não atendiam aos telefonemas, não aceitavam convites.

Essa minha coragem, como alguns denominam, de apoiar José Dirceu, que de
fato sequer meu amigo era, e de me aprofundar nos meandros da AP 470, a pon-
to de concluir que não se trata de “mensalão”, conforme a mídia a rotula, mas
de “mentirão – royalties para mim, em pronunciamento na ABI – eu, a
tímida, medrosa, reticente “Hildezinha”, ousando pronunciamentos na ABI!
O que terá dado nela? O que terá se operado em mim?

Esse extemporâneo destemor teve uma irrefreável motivação: o medo maior
do que o meu medo. Medo da Sombra de 64. Pânico superior àquele que me
congelou durante uma década ou mais, que paralisou meu pensamento,
bloqueou minha percepção, a inteligência até, cegou qualquer possibilidade de
reação, em nome talvez de não deixar sequer uma fresta, passagem mínima
de oxigênio que fosse à minha consciência, pois me custaria tal dor na alma,
tal desespero, tamanha infelicidade, noção de impotência absoluta e desespe-
rança, perceber a face verdadeira da Humanidade, o rosto real daqueles que
aprendi a amar, a confiar…

Não, eu não suportaria respirar o mesmo ar, este ar não poderia invadir os
meus pulmões, bombear o meu coração, chegar ao meu cérebro. Eu su-
cumbiria à dor de constatar que não era nada daquilo que sempre me foi
dito pelos meus, minha família, que desde sempre me foi ensinado. O princípio
e mandamento de que a gente pode neutralizar o mal com o bem. Eu
acreditava tão intensamente e ingenuamente no encanto da bondade, que
seguia como se flutuasse sobre a nojeira, sem percebê-la, sem pisar nela,
como se pisasse em flores.

E aí, passadas as tragédias, vividas e sentidas todas elas em nossas carnes,
histórias e mentes, porém não esquecidas, viradas as páginas, amenizado
o tempo, quando testemunhei o início daquela operação midiá-
tica monumental, desproporcional, como se tanques de guerra, uma infanta-
ria inteira, bateria de canhões, frotas aérea e marítima combatessem um
único mortal, José Dirceu, tentando destrui-lo, eu percebi esgueirar-se
sobre a nossa tão suada democracia a Sombra de 64!

Era o início do Projeto tramado para desqualificar a luta heroica daqueles
jovens martirizados, trucidados e mortos por Eles, o establishment sem nomes
e sem rostos, que lastreou a Ditadura, cuja conta os militares pagaram sozi-
nhos. Mas eles não estiveram sozinhos.

Isso não podia ser, não fazia sentido assistir a esse massacre impassível.
Decidi apoiar José Dirceu. Fiz um jantar de apoio a ele em casa, Chamei
pessoas importantes, algumas que pouco conhecia. Cientistas políticos, jorna-
listas de Brasília, homens da esquerda, do centro, petistas, companheiros
de Stuart do MR8, religiosos, artistas engajados. Muitos vieram, muitos
declinaram. Foi uma reunião importante. A primeira em torno dele, uma das
raras. Porém não a única. E disso muito me orgulho.

Um colunista amigo, muito importante, estupefato talvez com minha “audácia”
(ou, quem sabe, penalizado), teve o cuidado de me telefonar na véspera,
perguntando-me gentilmente se eu não me incomodava de ele publicar no jor-
nal que eu faria o jantar. “Ao contrário – eu disse – faço questão”.

Ele sabia que, a partir daquele momento, eu estaria atravessando o meu
Rubicão. Teria um preço a pagar por isso.

Lembrei-me de uma frase de minha mãe: “A gente nunca perde por ser legíti-
ma”. Ela se referia à moda que praticava. Adaptei-a à minha vida.

No início da campanha eleitoral Serra x Dilma, ao ler aqueles sórdidos
emails baixaria que invadiam minha caixa, percebi com maior intensidade a
Sombra de 64 se adensando sobre nosso país.

Rapidamente a Sombra ganhou corpo, se alastrou e, com eficiência, ampliou-se
nestes anos, alcançando seu auge neste 2013, instaurando no país o clima inqui-
sitorial daquela época passada, com jovens e velhos fundamentalistas assom-
brando o Facebook e o Twitter. Revivals da TFP, inspirando Ku Klux Klan,
macartismo e todas as variações de fanatismo de direita.

É o Projeto do Mal de 64, de novo, ganhando corpo. O mesmo espinheiro
das florestas de rainhas más, que enclausuram príncipes, princesas, duendes,
robin hoods, elfos e anõezinhos.

Para alguns, imagens toscas de contos de fadas. Para mim, que vi meu pai ame-
ricano sustentar orfanato de crianças brasileiras produzindo anõezinhos de
Branca de Neve de jardim, e depois uma Bruxa Má, a Ditadura, vir e levar para
sempre o nosso príncipe encantado, torturando-o em espinheiros e jamais devol-
vendo seu corpo esfolado, abandonado em paradeiro não sabido, trata-se de
um conto trágico, eternamente real.

Como disse minha mãe, e escreveu a lápis em carta que entregou a Chico
Buarque às vésperas de ser assassinada: “Estejam certos de que não estou vendo
fantasmas”.

Feliz Ano Novo.

Inclusive para aqueles injustamente enclausurados e cujas penas não estão sendo
cumpridas de acordo com as sentenças.

É o que desejo do fundo de meu coração.



Clique aqui para ler “Hildegard e o ‘Mentirão’ do STF”.

Aqui para ler “Hildegard: não basta prender Genoino. Querem imolá-lo”.

E aqui para ler “Hildegard e o linchamento de Dirceu”.
-64-ganha-corpo/
 

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