terça-feira, 17 de dezembro de 2013

LUIS NASSIF ANALISA "DESISTÊNCIA" DE SERRA

As razões de Serra ter 

jogado a toalha

Anunciar publicamente a desistência de disputar a candidatura do PSDB 
à presidência não foi ato de solidariedade partidária de José Serra, mas 
apenas o reconhecimento de que perdeu a batalha.
Nos últimos meses não lograva mais criar fatos, nem factoides. Convi-
dou-se para um evento na FIESP (Federação das Indústrias do Estado 
de São Paulo) que não repercutiu. Experimentou alguns laivos de dis-
curso progressista, e não colou. Balbuciou alguns lances de discurso de 
paz, e ninguém acreditou. Na morte de Mandela, imaginou-se de novo lí-
der intelectual de centro-esquerda que deixou de ser há muitas déca-
das, mas não pegou. Só manteve aplausos da ultradireita que passou a 
representar e que só o aceita enquanto mantiver o discurso de ódio.
É o que lhe resta. Indague de seus eleitores qual a característica que pre-
zam em Serra e eles dirão: o ódio, na forma mais obscurantista.
Recentemente, Serra queixou-se a aliados que estava completamente 
abandonado em São Paulo. Apesar dos elogios protocolares que de vez 
em quando lhe endereça, o governador Geraldo Alckmin tirou-lhe todo o 
oxigênio, não lhe entregando nenhuma área do Estado para abrigar seus 
aliados. 
Restou-lhe o Sebrae São Paulo. De tempos em tempos, uma entidade em-
presarial assume a gestão do Sebrae. Na vez da Associação Comercial, 
Guilherme Afif entregou a superintendência a Bruno Caetano, ex-Secretário 
de Comunicação de Serra, que aparelhou-a com dezenas de cabos eleitorais.
A fábrica de dossiês
Protocolarmente, lideranças do PSDB saudaram a grandeza de Serra, em 
favor da unidade, ao recomendar que Aécio Neves assumisse logo a candi-
datura pelo partido. Em particular, nenhum deles acredita minimamente 
em qualquer gesto de grandeza de Serra.
Sabem que ele não é movido a solidariedade, mas a ódio.
Os alvos do ódio variam com o tempo. Mas há alguns ódios permanentes. 
E Aécio Neves é um deles.
Em Aécio, há algumas características comuns a outros alvos de ódio – co-
mo Fernando Haddad, Ciro Gomes, Gabriel Chalita: jovens políticos repre-
sentando uma nova geração que enterrará a de Serra para sempre. Eduar-
do Campos só não entrou na lista, ainda, para poder ser usado como con-
traponto a Aécio. Ou então políticos da sua geração que ousaram disputar 
espaço com ele – como José Aníbal e Paulo Renato.
Mas há razões pessoais. Uma delas é a suposta falta de apoio em Minas 
Gerais, nas eleições de 2010. A outra – mais concreta – é o levantamento 
do dossiê que resultou no livro “A Privataria Tucana”, reação dos aecistas 
ao artigo “Pó Para”, no Estadão, que julgaram ter sido escrito sob inspira-
ção de Serra.
Poucos dias antes do anúncio da desistência, Serra publicou na “Folha” 
artigo pretendendo manter acesa a questão da cocaína. O mesmo fizeram 
jornalistas ligados a ele. Sua sutileza paquidérmica deixou claro que o alvo 
era Aécio Neves, devido ao episódio do helicóptero envolvendo seus aliados 
políticos.
Serra submergirá. Mas a fábrica de dossiês continuará ativa. E, por enquan-
to, o alvo maior não será Dilma.

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