domingo, 15 de dezembro de 2013

REPÓRTER DA FOLHA SURPREENDE-SE COM MELHORIAS NO NORDESTE

Lá no Brasil invisível
Vinicius Torres Freire, na Folha
08/12/2013 – 02h00
Em uma viagem pelo interior mais pobrezinho do Nordeste, este jornalista 
deu com uma cena que então parecia meio exótica. Crianças alimentadas, 
numa barulheira alegre, lotavam um ônibus escolar amarelo como 
aqueles de filme americano, mas estalando de novo.
De onde saíra aquilo? Na lataria, estava escrito: “Programa Caminho da 
Escola – Governo Federal”. O jornalista confessa com vergonha que até 
este ano jamais ouvira falar do “Caminho da Escola”. Além do mais, tende 
a desconfiar de que alguns desses programas com nomes marqueteiros se-
jam ficções, que existam apenas naquelas cerimônias cafonas de anúncios 
oficiais.
O “Caminho da Escola”, porém, financiou quase 26 mil ônibus desde 
2009, em mais de 4.700 cidades. Digamos que os ônibus carreguem 40 
crianças cada um (deve ser mais). Dá mais de 1 milhão de crianças. Conhe-
cendo a falta de dinheiro e as distâncias das escolas nos fundões do 
país, isso faz uma diferença enorme.
Daqui do centro rico de São Paulo, o Brasil, esse país longínquo, e 
muitas ações do governo parecem invisíveis. Quase ninguém “daqui” dá 
muita bola para programas populares dos governos do PT até que o povo 
miúdo apareça satisfeito em pesquisas eleitorais.
Juntos, tais programas afetam a vida de dezenas de milhões de pes-
soas, tanto faz a qualidade dessas políticas, umas melhores, outras nem 
tanto, embora nenhuma delas seja nem de longe tão ruim quanto a polí-
tica econômica.
Quem “daqui” conhece o Programa Crescer (Programa Nacional de Mi-
crocrédito)? Existia desde 2005, foi reformado por Dilma Rousseff em 2011, 
quando passou a contar com crédito direcionado e juro baixo, ora negativo 
(5%, abaixo da inflação).
O Crescer já financiou o negociozinho de 3,5 milhões de pessoas, 
um terço delas recipientes de Bolsa Família. Tem uma versão rural, 
mais antiga, mas vitaminada nos governos do PT, o Pronaf, que ofereceu 
crédito a juro real ainda mais baixo a 2,2 milhões de agricultores pe-
quenos na safra 2012/13.
O Pronatec já é mais falado, mas pouco conhecido (até mesmo pelo gover-
no, que só agora começou a fazer uma avaliação de resultados). Irmão 
mais novo e em geral grátis do universitário Prouni, trata-se de um conjun-
to variadíssimo de ações que procura oferecer cursos profissionalizantes e 
técnicos (ensino médio).
Desde sua criação, foram mais de 5 milhões de matrículas (há evidências 
esparsas de grande evasão, de uns 20%, mas ainda falta estatística séria). 
A maioria das vagas é reservada para os mais deserdados dos brasileiros.
Reportagem desta Folha mostrou que os 13 mil médicos do Mais Médicos 
devem estar ao alcance de cerca de 46 milhões de pessoas no ano que 
vem. Não é uma política ampla de saúde, está claro. Mas, outra vez, 
vai resolver muito problema de muita gente deserdada desta terra.
O Minha Casa, Minha Vida já entregou 1,32 milhão de casas; tem 
mais 1,6 milhão contratadas. Beneficia 4,6 milhões de pessoas.
Junte-se a isso tudo as já manjadas transferências sociais, em dinheiro, 
crescentes em valor e cobertura. É muita gente “de lá” beneficiada. Gos-
te-se ou não do conjunto da obra, o efeito social e político é enorme.
A gente “daqui” precisa visitar mais o Brasil.
* Vinicius Torres Freire está na Folha desde 1991. Foi secretário de Re-
dação, editor de ‘Dinheiro’, ‘Opinião’, ‘Ciência’, ‘Educação’ e corres-
pondente em Paris. Em sua coluna, aborda temas políticos e eco-
nômicos. Escreve de terça a sexta e aos domingos.

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