quinta-feira, 4 de setembro de 2014

RAFAEL PATTO ANALISA A ENTREVISTA DE DILMA AO JORNAL NACIONAL

Domingo passado, eu estava em Camagüey, Cuba, e de lá assisti pela teleSUR o "Voces de Cambio", comandado pelo Victor Hugo Moráles.
Um quadro inteiro do programa foi dedicado à disputa presidencial no Brasil. A Telesur apresentou uma análise tão analítica (com o perdão do pleonasmo) que dificilmente verei uma tevê brasileira se dar ao trabalho de fazer algo no mesmo nível e com a mesma qualidade.
O maior mérito da matéria, a meu ver, foi o trabalho metalinguístico que se fez em torno da postura dos principais veículos de comunicação do Brasil na cobertura dessas eleições.
Ao mencionar a entrevista que a presidenta Dilma, candidata à reeleição, concedeu ao jornal nacional, o apresentador Victor Hugo enfatizou o fato de que, dos 14 minutos que representavam o tempo total da entrevista, dois foram consumidos apenas numa única e irritante pergunta feita pelo willian bonner. Além de muito longa, a pergunta continha uma vasta enumeração de órgãos do governo federal que foram alvo de denúncias de corrupção no noticiário brasileiro ao longo dos quatro anos de governo da presidenta Dilma (como se o simples fato de a imprensa denunciar significasse que a corrupção de fato existiu...).
Para tornar a pergunta mais cansativa e irritante para quem iria responder, Willian bonner fez questão de citar ministério por ministério, a tal ponto que, depois da exibição deste trecho da entrevista, o apresentador Victor Hugo Moráles soltou um "ufa!" e emendou: "a pergunta que eu me faço é como que a presidenta do Brasil conseguiu se manter serena durante esses infindáveis dois minutos de uma pergunta que foi elaborada de uma forma que não se justifica do ponto de vista do jornalismo..."
Eu acrescento: os tais "escândalos de corrupção do governo federal" que a imprensa golpista alardeia são balas de festim. Boa parte dos "escândalos" que a imprensa "denuncia", depois de apurados, revelam-se verdadeiras não-notícias ou notícias sobre nada, falsas denúncias. E os "denunciantes" sequer se dão o trabalho de restabelecer os elos e repor a verdade, desfazendo a impressão equivocada que produziram junto ao público. Deixam os resíduos, as meias-verdades, que vão sendo depositados na memória do telespectador e oportunamente são evocados - como nessa pergunta do willian bonner que não foi sobre casos concretos de corrupção (investigados, confirmados e punidos), mas sobre essa massa enorme de manchetes falsas sobre o mesmo assunto.
Por que o willian bonner não perguntou ao Aébrio NEVER sobre os escândalos de corrupção na secretaria de meio ambiente, na secretaria de planejamento, na secretaria de educação, na secretaria de saúde, na secretaria de governo etc. etc. etc. do estado de Minas??? Simplesmente porque esses escândalos não foram nem são denunciados pela imprensa: é como se não tivessem existido. Aébrio NEVER teria muito a esclarecer sobre malfeitos e desvios no governo de Minas, só que jamais será confrontado porque não existe jornalismo isento no Brasil. A imprensa golpista brasileira é um verdadeiro poleiro de tucanos.

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